Um pequeno conto sobre bacharéis de direito

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Publico aqui um pequeno conto, cuja autoria é desconhecida, ironizando o excesso de bacharéis de direito no Brasil. O conto foi gentilmente enviado pelo Dr. Fernando Sperandio do Valle, advogado da Sperandio Advocacia, de Chapecó/SC.

O ano é 2.209 D.C. - ou seja, daqui a duzentos anos - e uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:

– Vovô, por que o mundo está acabando?

A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:

– Porque não existem mais advogados, meu anjo.
– Advogados? Mas o que é isso? O que fazia um advogado?
O velho responde, então, que advogados eram homens e mulheres elegantes que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, lutavam pela justiça defendendo as pessoas e a sociedade.
– Eles defendiam as pessoas? Mas eles eram super-heróis?
– Sim. Mas eles não eram vistos assim. Seus próprios clientes muitas vezes não pagavam os seus honorários e ainda faziam piadas, dizendo que as cobras não picavam advogados por ética profissional.
– E como foi que eles desapareceram, vovô?
– Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, pois todo super-herói tem que enfrentar um supervilão, não é? No caso, para derrotar os advogados esse supervilão se valeu da “União” de três poderes. Por isso chamamos esse supervilão de “União”.

Segundo o velho, por meio do primeiro poder, a União permitiu a criação de infinitos cursos de Direito no País inteiro, formando dezenas de milhares de profissionais a cada semestre, o que acabou com a qualidade do ensino e entupiu o mercado de bacharéis.

Com o segundo poder, a União criou leis que permitiam que as pessoas movessem processos judiciais sem a presença de um advogado, favorecendo a defesa de poderosos grupos econômicos e do Estado contra o cidadão leigo e ignorante. Por estarem acostumadas a ouvir piadas sobre como os advogados extorquiam seus clientes, as pessoas aplaudiram a iniciativa.

O terceiro poder foi mais cruel. Seus integrantes fixavam honorários irrisórios para os advogados, mesmo quando a lei estabelecia limite mínimo! Isso sem falar na compensação de honorários.

Mas o terceiro poder não durou muito tempo. Logo depois da criação do processo eletrônico, os computadores se tornaram tão poderosos que aprenderam a julgar os processos sozinhos. Foi o que se denominou de Justiça “self-service”. Das decisões não cabiam recursos, já que um computador sempre confirmava a decisão do outro, pois todos obedeciam à mesma lógica.

O primeiro poder, então, absorveu o segundo, com a criação das ´medidas definitivas´, novo nome dado às ´medidas provisórias´ . Só quem poderia fazer alguma coisa eram os advogados, mas já era tarde demais. Estes estavam muito ocupados tentando sobreviver, dirigindo táxis e vendendo cosméticos. Sem advogados, a única forma de restaurar a democracia é por meio das armas.

– E é por isso que o mundo está acabando, meu netinho. Mas agora chega de assuntos tristes. Eu já contei por que as cobras não picam os advogados ?

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Obs. Desvalorizaram tanto os professores que acabaram com a educação, cultura e os princípios básicos. (mais fácil manipular um povo inculto). O mesmo princípio de desvalorização assola os advogados e suas prerrogativas. (mais fácil manipular um povo inculto e sem direito à Justiça).

4 comentários:

Anônimo,  7 de julho de 2009 às 20:31  

Parabéns ao escritor do conto! Ele conseguiu de uma forma alegre e descontraida, bem humorada e sarcastica demonstrar a crueldade que fazem com as profissoes e os profissionais que lutam e defendem a grande maioria dos oprimidos.
Falo isso com convicçao, pois por ironia do destino ou por graça de Deus, sou graduada nas duas profissoes, (professora e advogada- quer dizer bacharel-rsrs)e percebo que essa pratica de desvalorizaçao é cada dia mais incentivada pela pequena maioria e pelos grandes prejudicados.
Quem sabe, atraves de contos, como acontecia na antiguidade, os adultos consigam perceber a importancia dessas profissões.
Grande abraço
prof e adv do PR

Anônimo,  8 de julho de 2009 às 17:39  

Engraçado de tudo isso é falar que os advogados defendem os pobres e oprimidos, é pra rir, eu já precisei de advogados e o que eles pediram foi muito dinheiro, e ainda não me defenderam com dignidade. Por isso resolvi aprender um pouco de Direito, e aí fiquei ainda mais decepcionado, porque o Direito é feito para os poderosos, e agora os advogados só estão com medo de perder regalias. E garantos os oprimidos não sentirão falta dos advogados, há milhares nas penitenciárias sem um.

Anônimo,  12 de julho de 2009 às 15:14  

O ponto não é estar despreparado para a prova e sim a irregularidade de como é elaborada prova, pois desde o primeiro período da faculdade, exigem do estudante de Direito, que seja colocada a FUNDAMENTAÇÃO, de suas respostas na prova, CASO O FAÇA É ZERO NA QUESTÃO.Sendo assim, é lógico que o Prof. que elaborou a prova, tem o Gabarito com a RESPECTIVA Fundamentação.
Eu pergunto: por que cargas d'água, quem elabora o Exame da OAB, não publica o Gabarito Oficial... COM FUNDAMENTAÇÃO????

Anônimo,  17 de agosto de 2009 às 09:45  

Acabo de receber um email com o conto acima. Eu pensei em postar no meu blog mas antes resolvi ver se alguem já havia postado.

Eu já sabia que este texto seria polêmico e os comentários de muitos seria degradante. Depois de ler alguns aqui no seu blog eu até desisti de postar no meu.

Já tenho muitos aborrecimentos diários e não quero, sinceramente, perder tempo depois respondendo a comentários indignos e mal criados.

Vejo que vc também não o fez. Eu não sei se ficaria quieta. Mas talvez seja o mais sábio.

Plagiando o velho jargão de que cada povo tem o governo que merece, afirmo que cada povo tem também a justiça que merece.

É ultrajante tudo o que temos que aguentar.

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