Para as futuras advogadas

domingo, 8 de março de 2009

O caminho que a mulher tem de trilhar para sair das sombras do preconceito, da violência e da subserviência ainda é grande. O caso da menina de 9 anos no Recife, que engravidou pelas mãos de quem deveria protegê-la, sob a mais absoluta ignorância de sua mãe, é apenas um tênue reflexo da grotesca miséria humana. A brutalidade deu as mãos para a cegueira, que juntas produziram uma história pavorosa, que marcará a ferro e fogo o corpo e alma de uma criança...uma criança de 9 anos de idade. E para completar esse teatro do horror, a Igreja, armada com seu fundamentalismo anacrônico, deu voz ao seu dogmatismo farisaico para deixar a triste impressão de que a lastimável frase "estupra mas não mata" contêm algum tipo de virtude bizarra a ser observada. Estamos vivenciando uma filosofia que faz da mulher um objeto, destituída de vontade, submissa a uma suposta verdade sobre sua real condição na terra, que não pode ter outra denominação senão a de serva. 

A mão que pesa sobre a mulher é brutal e dissimulada. E quando não mutila o corpo, arranca a alma.

Vocês advogadas e futuras advogadas têm de chamar para si  a responsabilidade de mudar essa realidade sinistra, sem esperar que o homem, gênero masculino, faça o que já deveria ter sido feito a décadas. Nossa dívida histórica com vocês é impagável e só nos resta pedir perdão por sermos tão vis ao submetê-las diuturnamente às misérias dessa existência.

4 comentários:

Unknown 8 de março de 2009 às 21:35  

Sadi e Analu Balneário Camboriú - SC.
Parabéns pelas palavras, Dr. Maurício,
simples e verdadeiras!

Anônimo,  8 de março de 2009 às 22:25  

As suas palavras estimulam nossa garra de continuar a luta! Obrigada.

Anônimo,  8 de março de 2009 às 22:57  

Com a devida vênia, preciso discordar das palavras deste tópico, confiando na liberdade de expressão tão estimada em um Estado democrático de direito. Como mulher, e futura advogada, ouso dizer que a vida humana é um bem de valor incalculável. Não obstante a opinião da Igreja Católica causar espécie à princípio, a mesma não está por completo equivocada. A dignidade da vida humana não pode ser relativizada casuisticamente, como fizeram diversos ditadores ao longo da história. A brutalidade cometida contra uma criança inocente não será apagada com o assassinato de outras duas, igualmente inocentes. Além disso, a compreensível revolta não deve ser dirigida àqueles que usufruem seu direito de liberdade religiosa e de expressão para defender a vida humana em todos os seus estágios, mas sim contra os crimes cometidos contra crianças e mulheres, que tanto sofrimento causam às mesmas. Ridicularizar o exercício de tais garantias fundamentais significa compactuar com a lamentável intolerância tão presente hodiernamente. Nós, mulheres e advogadas, devemos sim lutar por uma sociedade mais justa, onde teremos nossos direitos respeitados, mas nunca esquecendo de respeitar a dignidade dos outros, a fim de evitarmos cometer os mesmos erros que contra nós já foram um dia cometidos.

RECADOS DA VIDA 9 de março de 2009 às 11:42  

Dr. Maurício, sua sobriedade e sapiência ao redigir texto de tão alto nível, demonstra de forma inequívoca, a pessoa que és: solidária, estudioso dedicado, comprometido com a natureza humana e, sobretudo, desenraizado de fanatismos que cegam e limitam a forma de ver e pensar humanos.

Sou mulher; filha de uma sociedade machista e reprodutora de padrões machistas. Embora eu lute, mas estão enraizados em mim valores que foram internalizados pela força da cultura.

Ousei e rompi com muitos; tantos outros ainda aqui residem. Todavia, luto.

Achei fantástica sua homenagem a nós mulheres e a referência ao absurdo caso de Recife. Será que a igreja excomungou o estuprador ou deixou isso pro juízo final? Com o devido respeito, poupem-me aqueles que acreditam que a justiça é feita por meras palavras, principalmente a divina.

Reitero, caríssimo doutor, minhas palavras de admiração e apreço. E como advogada, mãe, mulher e gente que sou, agradeço sua sensibilidade.

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